sábado, 6 de agosto de 2016

A história da TV CEARÁ Canal 2, a primeira televisão do Ceará


Quem vive desde os anos 60 lembra-se do símbolo com a famosa imagem do indiozinho bochechudo e de antenas (Prefixo das Associadas), que chegava a ficar algum tempo no ar enquanto aguardava que os estúdios fossem arrumados para apresentar o próximo programa. Na época, não existiam nem vídeo-tape nem as garotas propagandas para completar o tempo de transmissão, tudo era ao vivo e na hora. A televisão iniciava suas transmissões às 18h00min, com uma música instrumental de Bill Vaughn, e encerrava por volta meia noite com a famosa música de fundo, “O boi da cara preta”, e um detalhe: pontualmente às oito horas tinha o “Boa noite garotada”, nada mais que uma chamada para os pais mandarem a meninada dormir.
A TV Ceará Canal 2, era uma obra pioneira do grupo Diários Associados, comandada por Assis Chateuabriand. Uma notícia veiculava pelo então jornal Correio do Ceará, do mesmo grupo empresarial, informando que o material para a instalação da televisão era procedente da Inglaterra e pesava cerca de 30 toneladas, informava, ainda, que a torre seria instalada sobre uma base de 90 metros de altura, que juntamente com a antena de 18 metros, perfazia um total de 108 metros.
O sonho tornou-se realidade no dia 26 de novembro de 1960, data em que a TV Ceará entrou no ar, mudando assim os costumes do povo cearense. Nessa época, Fortaleza tinha cerca de 500 mil habitantes e apenas 200 aparelhos de televisores. A televisão foi instalada no bairro Estância Castelo (atual Dionísio Torres), local onde hoje funciona o holding do Grupo Edson Queiroz, na Avenida Antônio Sales.
A TV Ceará foi a primeira emissora de televisão do estado do Ceará e contou com diversos nomes de profissionais da imprensa e artistas, pioneiros da televisão, como: Emiliano Queiroz, Renato Aragão, Ayla Maria, Neide Maia, Armando Vasconcelos, Augusto Borges, Paulo Limaverde, B. de Paiva, Aderson Braz, João Ramos, Marcus Miranda(o Praxedinho), Wilson Machado, Cândido Colares,  Guilherme Neto, Ary Sherlock, Hiramisa Serra, Karla Peixoto, Assis Santos, Irapuan Lima e muitos outros.
Sua grade de programação era genuinamente local e criativa que só. Havia o “Noticiário Relâmpago, apresentado por Narcélio Limaverde e o “Repórter Cruzeiro” que era o telejornal padrão do Canal 2, narrado por Cândido Colares com desenhos ilustrados por Mino (cartunista). Tinha, também, programas como “7 Dias em Destaque”, o qual conferia jangadinhas para as personalidades que se destacavam na semana. “Comédia da Cidade” e “Vídeo Alegre, este com o bom humor do Renato Aragão (ainda não conhecido por Didi). O sucesso de audiência ficava por conta do programa “Dois na Berlinda”, com Marcus Miranda no papel de “Praxedinho”
A TV Ceará trouxe o modelo do rádio para a tela, ele foi aperfeiçoado ao longo dos anos e, aqui, teve seu auge com os apresentadores Augusto Borges, João Ramos e Irapuan Lima, este último, se denominava o “Chacrinha do Norte”, apelido dado por Armando Vasconcelos, que fez com que Irapuan passasse a ser conhecido assim desde então. Irapuan veio do rádio, tendo passado 26 anos na Rádio Iracema apresentado vários programas, como: “O Vesperal do Chacrinha”, “A Garotada se Revela” e o “Programa Irapuan Lima”, sendo este último levado para a televisão. Chegou a comandar seu programa de auditório por quase 5 horas ao vivo, o maior neste formato na América Latina. Sua irreverência, as referências as “Irapuetes”, suas companheiras de palco e seus bordões tornaram Irapuan Lima um dos mais importantes apresentadores de programas de auditório da TV cearense, por isso que ele recebeu o apelido de “Chacrinha do Norte”.
Quanto aos programas musicais, a artista Terezinha Silveira cantava vez por outra no “TV Juventude”, comandado por Paulo Limaverde, que uma vez chegou aos estúdios montado numa lambreta. O “Show do Mercantil”, era levado ao ar todos os sábados e comandado por Augusto Borges, ainda teve o “Porque Hoje é Sábado” e “Gente que a Gente Gosta”, do Gonzaga Vasconcelos.
As telenovelas deixavam os telespectadores de olhos grelados no João Ramos, Ary Sherlock, Karla Peixoto, Glice Sales, Gonzaga Vasconcelos, Jório Nertal, Lurdes Martins e no pequeno Ricardo Pontes. A novela “Conde de Montecristo” teve imagens gravadas no cais do Porto do Mucuripe, pelo cinegrafista Polion Lemos. “Oliver Twist” arrancava lágrimas, sobretudo, dos televizinhos, aqueles que todas as noites visitavam os seus vizinhos para assistir televisão. “O Contador de Histórias”, narrado por João Ramos (dono de uma voz forte) apresentava adaptações de peças teatrais de autores famosos e foi uma série marcante na história do Canal-2. Tinham ainda os divertidos comerciais ao vivo com Toinho Menezes, bem como as lindas gartos propagandas do Sorvete Gellati. E os reclames? Ao vivo sem direito a erros, as garotas propagandas faziam sucessos anunciando os produtos e encantando os telespectadores, neles também, o Toinho marcou época na arte da improvisação. Cada marmota sua, fazia tanto sucesso a ponto de causar comentário geral na cidade. Quando, em 1965, com a chegada do vídeo-tape, a programação local, que era totalmente ao vivo, sofreu grandes reflexos negativos.
Com a crise financeira do Grupo Diários Associados, a TV Ceará entrou em decadência até sair do ar em 1980, numa melancólica transmissão de despedida, realizada em noite de vigília

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